Muitas pessoas sempre me perguntam, sejam minhas amigas mais intimas ou nem tanto, mas que acabaram por me conhecer melhor, sejam alguns amigos meus, o porque e como foi que eu conseguir arranjar um rapaz tão bonito para namorar, e mais do que isso para viver com ele? Se eu contasse a história verdadeira ninguém iria acreditar, por isso, conto uma história totalmente diferente, mas a verdadeira foi uma aventura inesquecível em minha vida, para conquistar o outro não foi nada fácil, mas também não era impossível.

Quando um o outro sonhador vem me pergunta, confesso que digo a verdadeira história, pelo que posso notar alguns realmente acredita, o que me alegra muito, mas outro ainda ficam um pouco desconfiados, achando que em algumas partes estou inventando, mas como sei que alguém aqui é curioso, irei contar a verdadeira história. Quem quiser ouvir que me ouça.

Enfim, estava um dia frio como qualquer outro naquele período anual de inverno, como em outro locais desse mundo, onde eu moro tem a tendência a nevar, por isso quando saio na rua preciso me aquecer o máximo possível, não pretendo morrer de frio, não tão facilmente. Decidi andar por ai, sem nenhum rumo ou destino planejado, iria até onde os meus pés pudessem levar ou suportassem carregar o resto do corpo. Pelo caminho passei por diversos conhecidos, falei com vários conhecidos, cumprimentei e depois continuei seguindo meu caminho. Em um determinado momento foi abordado por um colega que certamente estava passando por perto dele e decidiu falar com ele.

– E ai Gustavo, tudo beleza? Está indo para algum lugar? Ou está somente andando sem rumo pela rua, num dia frio como este?

– Não se preocupe, estou bem agasalhado, além disso, estou sim, andando sem rumo, se puder me indicar algum bom local onde eu possa passear.

– Tem uma praça aqui perto, lá tem um lago belíssimo, fica naquela direção – disse mostrando o caminho para o amigo. – Não tem como se perder, pode ser bom para caminhar e até quem saber refletir sobre a vida.

– Obrigado pelo conselho Caetano, acredito que não custa nada passar pelo parque, deve ser muito inspirado mesmo.

Ambos se despediram e cada um seguiu seu caminho, seu amigo seguiu em direção a sua casa e ele seguiu em direção ao parque. Encontrar o mesmo não foi nem um pouco difícil e Gustavo também não precisou pedir ajuda a ninguém, encontrar o local foi a coisa mais fácil do mundo. Começou a passear pelo parque, lá havia um lago mediano, deveria ser ótimo para um melhor, mas somente nos dias quentes de verão, pois naquele momento estava congelado, mesmo assim continuava esplendido.

Porém sua caminhada seria interrompida, quando ao observar uma parte do lago, percebeu que dentro ou embaixo da crosta de gelo havia alguma coisa, o que será que era? Ao se aproximar, parecia que era uma pessoa, seria isso mesmo? Já se encontrando na margem, não havia sobra de dúvida que era uma pessoa, ele queria observar mais, ver se ainda respirava ou estava morta, porém estava receoso se o gelo iria quebrar ou não. Ele colocou o pé direito, nada aconteceu, depois colocou o outro, também nada aconteceu.

– Bem não aconteceu nada – disse aliviado, falando com ele mesmo.

Calmamente, com passos leves começou a andar em direção a suposta, lá chegando, pelas roupas e pela fisionomia concluiu que se tratava de um garoto. Entretanto suas roupas pareciam não combinar com nada que as pessoas utilizavam naquele momento, deveria ser alguma moda diferente e inusitada, ele se agachou para admirar melhor. Foi nesse momento que tudo aconteceu em questão de segundos.

O gelo rachou, ele submergiu na água gelada, a temperatura deveria está próxima ou abaixo de zero ali dentro, ele tentava respirar mais isso estava quase sendo impossível, também tentava pegar impulso para sair dali, mas pela visão que ficou meio distorcida não conseguia ver direito a saída, começou a perder a consciência, mas antes disso acontecer definitivamente ele perdeu todas as forças e começou a afundar, foi nesse instante que viu uma luz brilhante vindo do fundo, e finalmente desmaiou de vez.

Certamente depois de um trauma desse, o garoto despertou assustado, não sabendo onde estava, e se estava vivo ou morto. Onde estava parecia ser um tipo de caverna ou um imenso salão, aparentemente parecia não ter saída, mas observando melhor pode notar uma imensa porta sua frente, quase da cor das paredes, havendo uma sútil diferenciação entre as duas. Não havendo outra alternativa foi em direção a porta, empurrou-a para a outra direção e aos poucos foi abrindo, se encontrando em outro sala, mas dessa vez menor.

Aquele recinto de alguma maneira parecia familiar, na verdade lembrava muito uma… sala do trono, com objeto como quadro, estatuas de gelo em vez de serem de ferro, mobília decorando o local, vasos de plantas, o problema é que tudo parecia congelado, se tornando esculturas de gelo. Caminhando um pouco mais chegou ao local onde se encontrava o trono real e ali… também havia uma pessoa… espera um pouco, as roupas e o visual não era o mesmo do garoto que estava congelado embaixo da camada de gelo no lago, mas como os dois vieram parar ali? Como ele foi parar ali? E porque que quando o mesmo afundou não viu corpo algum? Ele se aproximou mais do rapaz, ele estaria dormindo ou literalmente morto? Quando vez a menção em tocar naquela figura, a mesma se mexeu de supetão, lhe dando um grande susto e derrubando para trás. Com os olhos gélidos em sua direção, aquilo falou:

– Pensei que teria mais modos diante de um rei? O que faz aqui na sala do trono? Quem lhe deu permissão para entrar?

– Quem é você ou que é? Pensei que estivesse morto, e eu não se lhe dizer, a última vez que lembro de alguma coisa foi desmaiando e quando acordei estava na sala anterior.

– E de onde você vem? – perguntou o monarca num tom inquisitivo.

– Da cidade de Pérola de Cristal, estava andando no gelo, quando pensei ter visto uma pessoa, o gelo quebrou, cai dentro da água, comecei a afundar, vi um brilho estranho vindo do fundo e depois estava aqui.

O rei se levantou, ergueu a mão e falou:

– Basta! Eu já sei de tudo, não sei como conseguiu tal proeza, mas você teve a sorte de encontrar um portal para o meu reino, e existem pouco deles, pedir para meus engenheiros, soldados e alguns súditos selarem quase todos os portais, esse deve ser um dos que sobrou.

– Afinal que lugar é esse? Quem é você? E onde estão todos?

– A primeira e a segunda perguntas já foram feitas, mas responderei assim mesmo – e começou a caminhar em direção ao rapaz. – Chamo-me Clauchet I, o Rei de Gelo, pode-se dizer que sou uma criatura mágica, mas nem sempre foi assim e isso é uma longa história. Já em relação a sua outra pergunta, meu reino é vasto e as outras pessoas devem estar por ai, meus soldados devem estar descansando, além disso pedir para não ser incomodado por um tempo, até eu mesmo revogar essa ordem.

– Desculpe se interrompi alguma coisa. Não quis atrapalhar.

– Sem problema rapaz, agora que está aqui, poderemos conversar um pouco – e começou a andar em sua direção, mas o garoto descobriu que pela agilidade o mesmo estava levitando, por onde passava lhe seguia uma corrente de ar gelado. – Você tem coragem rapaz, de vim até o meu reino e de enfrentar um lago congelado num dia frio e gelado como este – seu halito era tão gelado que fez o corpo do rapaz se arrepiar todo.

– Também não queria estar aqui, por isso mesmo, se puder me tirar ficarei muito grato.

– Acredito que existe um jeito, mas nesse caso vai precisar muito de você. Na verdade trata-se de um desafio, todos que vem ao meu reino são desafiados e somente se conseguem passar é que poderão ir embora.

– E o que acontece que não consegue?

– Torna-se um soldado a meu serviço.

– Tudo bem, eu topo seu desafio, quais são as tarefas que preciso realizar?

– Você acredita que seja mais de uma? Como você tem certeza disso?

– Eu acredito que um único desafio não vai satisfazê-lo, por isso mesmo estou preparado para qualquer coisa que vier, qualquer situação que eu precisar enfrentar.

– Vejo que é um rapaz inteligente, serei mais brando com você, só precisa fazer três desafios. E o primeiro requer que você tire toda a roupa ou pode ficar de cueca e mergulhe na minha piscina, na sala ao lado, não se preocupe, é um local reservado. Por fim gostaria que você pudesse ficar pelo menos 05 minutos

– Sem problema eu não tenho medo ou vergonha que me vejam se roupa. E se quiser eu posso ficar até 10 ou 15 minutos.

– Tudo bem sabichão, você é quem sabe, o desafio é seu, você faz do jeito como quiser.

Sem nenhuma cerimônia, Gustavo começou a se despir, independente de saber ou perceber que deixará um governante um pouco desconsertado, sem jeito e até levemente encabulado. Disfarçando um pouco o monarca levou até o aposentado falado por ele. O desafio foi feito com êxito e ele estava pronto para o próximo, o outro ficou somente observando, depois sabe-se lá de onde, trouxe uma toalha e deu para o rapaz, enquanto o mesmo se enxugava, falou num tom nobre:

– Vejo que não foi tão difícil esse desafio para você, então o segundo não será impossível para você realizar. O que quero que faça é que sente no meu Trono de Gelo e fique no tempo que quiser.

– Isso é moleza – e também acabou realizando esse segundo desafio com perfeição.

Agora faltava somente um desafio, Gustavo estava um pouco ansioso, mas não estava nem um pouco nervoso, pois acreditava que seria fácil, como havia sido anteriormente, ele parecia ter uma falta de sensibilidade ao frio, ou estava acostumado a ficar em certas temperaturas que não transmitiam calor. Ele estava somente tremendo um pouco, todavia com o tempo certamente desapareceria, quando o calor volta-se mais para o corpo dele. O trono era realmente gelado, mas se mexendo um pouco de um lado para o outro deu para ficar por um bom tempo, o suficiente para agradar Clauchet.

– Tenho certeza que o último desafio será um pouco indigesto para você, apesar que eu não gosto muito de fazê-lo, mas já se tornou um hábito, além disso, só possuo os soldados que tenho hoje por causa disso.

– E o que seria isso afinal, é tão ruim assim?

– Talvez seja, dependerá de você. Vamos lá, o último desafio é receber um beijo gelado de mim, mas calma, não é um simples beijo comum, ele tem o poder de praticamente lhe sugar o corpo e alma isso se não congelar por completo, se tornando um soldado a meu serviço.

Isso surpreendeu o garoto um pouco, ele poderia esperar por qualquer coisa, menos um beijo, não que fosse algum problema beijar um garoto ou sabe-se lá o que aquela criatura a sua frente, mas o mesmo era feito de gelo, e de fato se ele não congela-se, morreria na certa, também pelo motivo do frio intenso que teria que passar. Já havia sentido o halito ou a respiração gelada do outro e isso só piorava a situação e lhe acrescentava um pouco de nervosismo a tudo, entretanto ele precisava tomar uma decisão e ele não iria desistir naquela altura do campeonato, o jogo estava praticamente e como ele não tinha medo, iria até o fim.

– Por mim tudo bem, eu topo esse último desafio. Pode vim que estou preparado.

– Ótimo, que bom pensa assim garoto, espero que continue vivo para comemorar sua vitória, e ela vier a existir de fato – e foi levitando em direção ao rapaz, até que estava quase colado com o rapaz, seu rostos se aproximaram lentamente.

Ele achava que a sensação de um beijo, ainda mais gelado seria a pior coisa do mundo, fora que aquele era o seu primeiro, nunca havia feito isso antes, ele esperava que tivesse sido com outra pessoa, alguém muito especial em sua vida, todavia agora era tarde demais para pensar nisso. Porém não foi tão ruim assim, e até mesmo o hálito gelado em sua boca durou por pouco tempo, pois quando abriu os olhos, observou a coisa mais estranha acontecer diante de si.

Simplesmente a criatura de gelo havia congelado, estava totalmente petrificado ou duro, mas não parou por ai, depois disso começou a trincar e depois uma grande rachadura apareceu em seu rosto e começou a percorrer todo o corpo, quando o rapaz que ele iria virar pequenos pedaços de gelo no chão, o gelo e que foi caindo, revelando um garoto normal por trás de tudo isso. Quando todo o gelo finalmente caiu ele abriu os olhos, belíssimos olhos, de um verde vivo, os cabelos loiros e a pele linda como seda, estava olhando em direção a Gustavo.

– Agradeço por me libertar dessa prisão de gelo, isso foi uma maldição que foi lançada a muito tempo por um bruxo que desejava o meu mal, e que só poderia ser desfeito por alguém valente, corajoso, destemido e de coração puro, e você possui todas essas qualidades.

– E o que aconteceu com as outras pessoas? Ainda são seus soldados?

– Não existem pessoas alguma? Não percebeu que foi não foi abordado por nenhum soldado até esse momento, isso foi alguém que inventei para as pessoas aceitarem o desafio até o fim, e quando eu percebia que não era a pessoa certa, terminava o beijo e mandava ela embora, mostrando o caminho que deveria seguir.

– Que bom que pude lhe ajudar, mas e agora, podemos ir finalmente?

– Sim, podemos, eu mostro o caminho – e atrás deles, toda a sala ia começando a derreter por completo, mostrando que aquilo não passava de uma simples caverna.

Voltar para casa não foi tão difícil, pois, por mais complicado que pudesse ser, o rapaz possuía um certo tipo de magia e levou os dois para a casa de Gustavo, claro que ele não ficou na mesma, mas ficou morando perto, os dois passaram a ficar mais íntimos, e depois de um tempo decidir namorar sério e até se encontram junto. Parece mais um sonho ou um filme que mistura realidade e ficção, mas o que foi relatado é a mais pura verdade, é só abrir o coração e deixa essa brisa gelada entrar, mas cuidado, ela pode ser nociva a seres humanos que não estão acostumadas com ela.